Papo de vira-latas
J.Carino
- Oi, Billy, como vai você neste dia tão lindo?
- Bem, Bob. Um dia assim dá vontade de correr, pular, em suma,
exercitar ao máximo nossa "cachorrice".
- É, Billy, mas temos trabalho. Nosso dono, Paulo, vem aí e
precisamos estar alertas na vigilância desta casa, que é tão nossa quanto dele e da família,
casa onde encontramos tanto carinho, tanto amor.
- Au, au, au, au.
- Que foi, Billy?
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- Nada. É só pro pessoal da rua saber que somos valentes e dispostos
a defender com nossa vida este pedacinho de chão que tanto amamos com nossos corações caninos.
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- Lembra, Billy, quando nós chegamos aqui?
- Claro. Você era pequenininho e cheio de pulgas!
- Você também, Bob. Só ficou grande e forte assim com as mordomias do
pessoal daqui da casa.
- Foi duro, cara. A gente tinha uma raiva danada. Era uma vontade de morder
qualquer ser humano.
- É, a gente achava que esse negócio de amor e carinho era só papo furado.
- Mas a gente tinha razão. Como é que se pode abandonar os bichos assim,
como fizeram com a gente?
- Bichos só, cara? O pessoal tá abandonando criancinhas por aí. Jogam na
rua e deixam morrer.
- Ou criam feito bichos... oops, saiu sem querer. Criam feito gente que
não presta mesmo.
- Nosso dono nos ajudou a acreditar novamente na raça humana...
- Bem
Billy, mas também não dá pra acreditar em todo mundo, não.
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- Claro, Bob, tem gente que merece um boa dentada na...
- Olha lá, Billy, que pode ter criança lendo estes nossos pensamentos caninos
milagrosamente transformados em palavras.
- Desculpe, você tem razão.
(Billy se afasta e Bob grita em sua linguagem de latidos:)
- Ei, Billy, não faça essa sujeira aí, não. A gente custou a aprender o
que o Paulo nos ensinou.
- Xi, desculpe. Foi uma recaída ligada ao tempo em que a gente era
cãozinho de rua, bichinho abandonado...
- Não foi nada, às vezes acontece comigo também. Aliás, você tem visto
naquela televisão, que a gente olha pela janela da sala, quanta sujeira andam fazendo por aí?
- É mesmo. Outro dia disseram até que estavam fazendo uma cachorrada com o
povo.
- Quanta injustiça com a gente! Fiquei indignado.
- Eu também, Bob, me deu vontade de sair mordendo essa cambada.
- Billy, logo mais vamos tomar um bom banho. Quem sabe se o Paulo resolve
fotografar a gente para botar na página dele na Internet...
- É mesmo, temos de caprichar no visual. Já pensou, as fotos de Billy e
de Bob correndo o mundo nas infovias?
- Mas, agora, vamos trabalhar, Billy. Eu corro atrás dos gatos e você
atrás dos ratos, certo?
- Certo.
Na modorra da tarde, um quintal cheirando a mangas, jacas e goiabas
voltou à calma, num quase silêncio, só quebrado pelo cacarejar das galinhas, preocupadas
em poder presentear, amanhã bem cedinho, o dono da casa com ovos frescos, de gemas amarelinhas,
cor de ouro como todo coração de humanos que entendem e amam os bichos.
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