Campo de São Bento em Niterói

Apressado, percorro calçadas, cruzo ruas, corto caminhos na manhã niteroiense. Quem me vê, desavisado, poderia imaginar muitos motivos para minha pressa; urgência de trabalho, emergência por conta de doença de alguma pessoa querida, o atraso para algum compromisso – até em rabo-de-saia poderia pensar!

Qual o quê! Sigo rápido assim porque quero chegar logo ao Campo de São Bento.

O campo é um oásis em meio à aridez do cotidiano. Entrar em suas alamedas ensombradas é bálsamo para o corpo e dádiva para o espírito.

Ando um pouco, paro e observo. Os raios de sol se insinuam, vindos lá de cima, da copa das árvores, e tingem de dourado as folhas largadas no chão, que ostentam um jeito de missão cumprida, depois de verdejarem muito tempo as árvores. Agora, tingidas do amarelado, ao sépia e ao marron da senectude, forram as alamedas do campo como um tapete de rara beleza.

O Campo parece a paleta de um pintor genial usando com maestria os tons de verde: mais cor de musgo aqui; verde-alface acolá; verde-abacate ali; verdejantes tons em profusão.

No Campo, uma sinfonia de sons invade nossos ouvidos, acostumados com a barulheira agressiva da cidade. Trinados de pássaros são um brinde maravilhoso. Apurando a audição, notas agudas ou graves, chilreados, pipilares ou cantares abertos trazem uma inusitada alegria, como se os passarinhos dessem graças à vida por disporem de um lugar tão maravilhoso em plena confusão urbana.

Percorrendo com vagar o Campo, deparamos com outro tipo de passarinhos: a garotada alegre, esbanjando vitalidade e alegria. Esses pequeninos atletas da meninice aí estão: alguns mal concatenando passadas, no eterno e maravilhoso milagre do aprender a andar; outros abusando, com graça e vigor da correria; outros, ainda, encarapitados em suas bicicletas desafiam todas as leis, incluindo as do bom senso e a da gravidade.



O cimentado que serve de rinque mostra-se o palco de incríveis piruetas de pequenos e velozes patinadores.

O parquinho é pura algazarra: nos carros elétricos coloridos, que milagrosamente resistem às batidas propositais, tanto melhores quanto mais fortes; na magia do carrossel, cujos cavalos não apenas giram, mas sobem muito além do campo, cavalgando por paragens celestes imaginárias.



Nos fins de semana, o Campo é um grande burburinho. Ao intenso movimento de sempre, soma-se a feirinha de artesanato. Gosto, então, de imaginar que estou nas cercanias de um burgo medieval, com seu mercado de vendas, compras e trocas, pilar de todo o avassalador desenvolvimento do capitalismo.

Arte e artesanato, na feirinha, exibem a irresistível vocação artística de Niterói, onde a criatividade – em artes plásticas, música, teatro, toda a gama de manifestações artísticas, enfim – parece sair pelos poros da cidade.

Poucos lugares mobilizam tanto corações e mentes, com a força da arte, da criação, da inovação, da beleza em tom maior que a arte proporciona quanto nossa Cidade Sorriso. Em sua simplicidade, sem a arrogância e o exibicionismo com que outras urbes procuram manifestar, a qualquer custo, sua vocação artística, Niterói expressa-se como arte em muitas esquinas, na beira do mar, aqui e ali, distribuindo generosa e democraticamente o talento de seus filhos de nascimento ou por escolha de morar na cidade.

E o Campo de São Bento concentra e sintetiza essa vocação: na feirinha, na Sala Pascoal Carlos Magno, nas serestas ou bandas que se apresentam no coreto, ou em qualquer lugar do Campo – acontecendo, simplesmente.

Impregnado pelo encantamento do Campo, já larguei minha pressa e meus problemas para trás. Deixo-me estar, somente, mantendo meu corpo imóvel num dos bancos, mas com minha alma percorrendo cada cantinho deste oásis verdejante, que conheço de cor.

Olho, atentamente, por entre as árvores centenárias. Um arco-íris se desenha milagrosamente no ar, no meio das folhas. É formado pelo encontro das águas do repuxo com o ar morno da manhã. As sete cores se multiplicam numa infinidade de tons, que variam e, lentamente, se desfazem no ar, depois que encantam e renovam minhas retinas com um espetáculo de coloridos.



As águas, projetadas em jatos para o alto, ainda me reservam uma gostosa sensação: embora estando longe, um capricho do vento traz gotículas de água – pérolas minúsculas e transparentes -, que me tocam de leve a pele, causando uma inigualável sensação de frescor.

Completamente envolvido pela atmosfera desse lugar encantador, meu pensamento voa e quase consigo ver o próprio São Bento a passear pelas alamedas, absorto, com a alma em perfeita comunhão com os céus, e certamente abençoando o Campo e todos os que, como eu, podem agradecer pela delícia e beleza deste pequeno paraíso.

Texto e fotos de J.Carino.

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